A maçonaria, a instrução e a beneficência

A base essencial da Maçonaria é o desenvolvimento intelectual da Humanidade, uma garantia contra as ideias preconcebidas e as tiranias religiosas e políticas. Por con­sequência, o verdadeiro maçon deve tratar de divulgar e alargar a instrução, que conduz a este desenvolvimento social e a esta libertação intelectual. A instrução foi sempre par­ticularmente zelada pelos Governos de origem maçónica. Passos Manuel, Anselmo Braamcamp e Rodrigues Sampaio, chefes maçónicos, deixaram traços da sua passagem pelo Ministério do Interior e da Instrução. Passos Manuel criou os liceus, Anselmo Braamcamp preconizou a criação de asilos e Sampaio fez a Lei da Instrução Primária em 1878, que descentralizava o ensino e deixava à iniciativa particular a sua influência para o desenvolvimento da instrução popular.

Garrett, que não foi ministro, sendo Maçom [1] foi o criador do Conservatório da Pintura e da Arte Dramática e o principal impulsionador da construção do Teatro Naci­onal, ao qual ofereceu os primeiros dos seus dramas históricos bem conhecidos em Por­tugal. Mas embora a Maçonaria não estivesse sempre representada nos Governos, e que muitos ministros de Estado lhe tenham sido estranhos, não continuou menos a trabalhar pela instrução em todos os campos onde o podia fazer. Quando José Elias Garcia, Grão-Mestre maçónico e grande chefe republicano, foi conselheiro da Municipalidade de Lis­boa, tomou a direcção da instrução primária de Lisboa, então a cargo da Municipalida­de, segundo a lei de outro Maçom, Rodrigues Sampaio, e ela teve nesse período um des­envolvimento e brilho extraordinário.

Graças a uma tentativa de imitação dos processos suíços, as crianças recebiam unia educação física e militar que fazia o encanto do povo dessa época. A reacção mo­nárquica tratou de expulsar os maçons e os republicanos da Municipalidade de Lisboa, e para realizar a absorção total, ela centralizou toda a instrução primária nas mãos do Go­verno, sob a tutela do Ministério do Interior. Esta determinação foi duplamente grave sob dois aspectos, pedagógico e administrativo. Mas a Maçonaria não se deixou desen­corajar, e na impossibilidade diretamente por meio dos poderosos do governo, ela tra­tou de vir em auxílio da instrução pela iniciativa particular.

Criaram-se então muitas escolas e usaram-se todos os meios para dar o seu con­curso a outras que ameaçavam soçobrar, por falta de recursos pecuniários. Além do Asilo de São João de Lisboa, fundado por José Estevão, e um outro do mesmo género a expensas dos maçons do Porto, a Maçonaria criou a Escola Marquês de Pombal, iniciou a associação conhecida pelo nome de Vintém das Escolas, que mantém três em Lisboa e uma no Porto, e instalou a Academia de Estudos Livres. Tomou sob a sua protecção a Academia de Instrução Popular para raparigas e a Escola Oficina n.º 1 para rapazes, derivada da Associação das Creches e das Escolas, ajudou a Escola do Grémio Popular da Rua dos Cordoeiros e, indiretamente, pode-se dizer, por intervenção dos seus mem­bros, obteve a preponderância em quase todas as escolas republicanas e nas cantinas escolares de Lisboa, Coimbra e Porto. A Liga Nacional de Instrução foi igualmente obra dos maçons e na última fase da monarquia ela serviu admiravelmente não apenas para desenvolver, por meio dos associados dos círculos provinciais, a instrução nas localida­des, rijas ainda como disfarce de muitas Lojas maçónicas que se criaram em muitas cidades do País nessa época. O distrito de Leiria fornece-nos uma prova irrefutável des­se facto. A iniciativa da Loja «Gomes Freire» demonstrou que o fervor pela instrução alimentava de tal modo o espírito maçónico que as escolas da zona que dantes eram muito pouco frequentadas, adquiriram um desenvolvimento extraordinário, fazendo festas escolares em que se distribuíam roupas e calçado pelas crianças pobres que as frequentavam. E isto acontecia igualmente em todo o lado onde as Lojas se mostravam ao público como simples círculos da Liga Nacional de Instrução, atraindo simpatias pela sua afabilidade e pelas festas recreativas e instrutivas que elas ofereciam não apenas para instrução do povo, mas ainda como fontes de receitas para a subvenção das escolas e para vir em auxílio das crianças pobres que as frequentavam.

A Festa da Arvore, que se procurou enraizar no País com o fim de chamar a atenção das crianças e do povo sobre a utilidade das árvores e da agricultura, foi tam­bém introduzida em Portugal pela Maçonaria, que a generalizou nas escolas. Pode-se mesmo adiantar que o desenvolvimento da instrução popular, devida à iniciativa parti­cular nos últimos anos, tem a sua razão de ser no espírito maçónico dos seus propagan­distas, que pertenciam, à Ordem. E na maior parte das escolas mencionadas, e noutras onde o elemento maçónico faz sentir a sua acção, as crianças pobres recebem, junta­mente com a instrução, o alimento, os livros, as roupas e o calçado.

Poderíamos acrescentar muitas outras manifestações de beneficência maçónica para a protecção infantil. Os Boletins e os Anais Maçónicos fazem o seu relatório, mas há certos casos dos quais se guarda segredo, visto que algumas vezes o benefício deve ser escondido para não se tornar depressivo.

Autor desconhecido

Notas

[1] Memórias de Almeida Garrett», por Amorim, tomo I (N. do A.)

Fonte https://www.freemason.pt/

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