TELHAMENTO x TROLHAMENTO

A Pílula Maçônica Nº 61 de autoria do Irmão Alfério Di Giaimo Neto, escrita em parceria com o Irmão Fernando Túlio Colacioppo Sobrinho, começa com a seguinte assertiva: “É interessante, na Maçonaria, como certas coisas realizadas, praticadas, ou palavras ditas ou interpretadas erradamente por Veneráveis Mestres, se espalham numa velocidade vertiginosa e tendem a se tornarem aparentemente verídicas”.

Mesmo depois de existirem vários textos explicativos sobre o que significa Telhamento e Trolhamento, no âmbito de nossa Augusta Ordem, temos presenciado, mesmo na atualidade, equívocos sobre a utilização correta do termo. Há poucos dias, por exemplo, tivemos a oportunidade de ouvir, de um Irmão, falando em trolhamento, quando o correto seria ter dito telhamento para o caso que estava a relatar. Esse fato nos motivou a escrever, uma vez mais, sobre o tema, apresentando o significado de cada um dos termos.

TELHAMENTO é uma palavra derivada de telhar. E telhar significa cobrir com telhas.
Todos sabemos o que é uma telha, mas entendemos oportuno apresentar a definição:
TELHA é um substantivo feminino que vem do latim tegula, peça geralmente feita de barro cozido ao forno destinada a cobertura de edifícios ou casas.
A palavra telha vem do latim: “tegula”.

Mesmo existindo a palavra “telhador”, em português, o termo mais utilizado é “cobridor”, para denominar aquele que coloca telhas, cobre, oculta, protege uma área de um edifício.
Segundo o dicionário Houaiss entende-se por TELHAMENTO o ato, ou ação, de telhar, ou seja, cobrir com telhas.

TROLHAMENTO é o neologismo maçônico e inexiste no idioma pátrio.
Segundo o Novo Dicionário Aurélio (versão eletrônica), TROLHA é um substantivo feminino, uma espécie de pá utilizada na qual o pedreiro tem a argamassa que vai usando.

A palavra trolha vem do latim: “trullia”, possuindo outras variantes como: trulla (colher pequena) e trullea, espécie de pá em que o pedreiro põe a cal amassada de que vai se servindo, é um instrumento de trabalho de formato triangular usada essencialmente em construções.

No Brasil tem o sentido de desempoladeira e desempenadeira.

Como substantivo masculino significa pedreiro comum, na forma pejorativa pessoa sem importância.

O Mestre Castellani em sua Cartilha de Aprendiz, editado por A Trolha, diz o seguinte:
“Telhamento: é o exame de alguém, nos Toques, Sinais e Palavras, para verificar sua qualidade maçônica, ou se tem Grau suficiente para assistir a um trabalho maçônico em Grau superior ao de Aprendiz. Representa uma cobertura e, como as telhas, serve para Cobrir o Templo a Profanos, ou aos que não possuam Grau suficiente para assistir a Sessão. O termo é muito confundido com ‘trolhamento’, que para este caso é totalmente errado, pois quando o Cobridor (ou Telhador) examina algum nos Toques, Sinais e Palavras, ele estará se cobrindo e cobrindo o Templo e os trabalhos a eventuais intrusos; estará fazendo o telhamento e não ‘trolhamento’, que é outra coisa”.

Telhar, na Maçonaria, significa proceder à verificação, por meio de perguntas, se uma pessoa é Maçom e, em sendo, se possui o Grau requerido para participar dos trabalhos. Assim, os visitantes devem ser “telhados” pelo Cobridor, com essa finalidade.

Não é demais recordar que Cobrir o Templo é protegê-lo de tal forma que pessoas que estão fora não saibam o que está́ ocorrendo dentro dele. Dessa forma, está errado requerer aos Aprendizes ou aos Companheiros ou, ainda, aos Mestres para cobrirem o templo temporariamente, estes em Sessão de Instalação, pois o Templo é que será coberto para eles. Como eles não podem saber o que ocorrerá dentro Templo, num determinado período, o Templo estará́ “coberto” (Castellani).

Quem cobre o Templo é o Cobridor Externo, não o Aprendiz ou o Companheiro ou o Mestre.

Dessa forma, o Telhamento é o ato de examinar um desconhecido para certificar-se, primeiro, sua condição de maçom, segundo se está regular e, finalmente, para confirmar se possui o Grau adequado ao da Sessão que está ocorrendo ou que vai iniciar.

Portanto, a expressão “Trolhamento” está errada, tendo em vista que toda edificação é protegida de intempéries do mundo exterior pelo telhado (que é composto de telhas).

Trolhar significa passar a trolha (colher de pedreiro), como também nos afirma o Mestre Castellani. A colher de pedreiro ou a trolha é a ferramenta da qual se utiliza o pedreiro para colocar a argamassa, objetivando alisar a massa aplicada, de forma a aparar as arestas. Assim, maçonicamente, passar a Trolha ou Trolhar significa apaziguar as divergências entre Maçons, aparando e alisando as arestas.

Nas palavras de Nicola Aslan, Trolhar: é esquecer as injúrias, as desavenças entre os Irmãos. É perdoar um agravo, dissimular um ressentimento, perdoar uma falta de outro Obreiro. É reforçar os sentimentos de fraternidade, de bondade e de afeto, que unem todos os membros da família maçônica. Esses sentimentos devem ser contínuos, sem falhas, sem asperezas e sem rugosidades. Se isso ocorre em uma Loja, o Venerável Mestre deve se inteirar do que está ocorrendo e “trolhar” os envolvidos. Por isso que, na Inglaterra, o Símbolo com o formato de uma “colher de pedreiro” é usada pelos Mestres Instalados.

Um termo que aprendemos a utilizar na Maçonaria, tão logo passamos pela Iniciação, é Goteira e muitas vezes este termo não é bem explicado ao Aprendiz ou mesmo não é bem compreendido e é utilizado por um Maçom, mas sem compreender, simbolicamente, o que significa o termo para a Maçonaria.

Em uma casa, por exemplo, quando o telhado não está bom, quando as telhas não estão alinhadas, em caso de chuva podem ocorrer goteiras dentro de casa, ou mesmo chegar a chover. Dessa forma, o termo em nossa Ordem significa que tem profano presente entre Maçons, quando se está travando diálogos maçônicos e devem ficar restritos a eles. “Nesse caso, diz-se que ‘há goteira’, ou ‘está chovendo’, para mostrar que não há cobertura, para tratar de assuntos maçônicos”.

Concluindo, podemos afirmar que um construtor, como eram os antigos Maçons, não se expressa, dizendo que vai passar a trolha para evitar goteiras, estas são evitadas com um bom telhamento, ou seja, com boas telhas e assentadas de forma correta em ambos os sentidos.

Assim, na Maçonaria somente podemos evitar as goteiras se tivermos um bom telhado, para tanto o exame que se faz para comprovar o Grau e a qualidade de Maçom de um Irmão visitante desconhecido deve ser um preciso TELHAMENTO.

Autor: Irm∴ Marcos A. P. Noronha – Mestre Instalado.

Observações:
Salientamos, uma vez mais, que os DIÁLOGOS MAÇÔNICOS conterão textos filosóficos e questões de ordem prática, visando boas e corretas práticas, de acordo com a Liturgia, o Simbolismo e as Tradições Maçônicas.

Este DIÁLOGO MAÇÔNICO foi extraído da Pílula Maçônica Nº 228, de nossa autoria, escrita em maio de 2016 e publicada na página (site) da Loja Solidariedade e Progresso Nº 3078, em 15/06/2016.

Contudo, este texto, contido no DIÁLOGO MAÇÔNICO Nº 007, foi revisado e ampliado.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Descubra mais sobre Brasil Maçom

Assine agora mesmo para continuar lendo e ter acesso ao arquivo completo.

Continue reading