Série: Carbonários

Princípios da Carbonária

1- A Carbonária é uma associação independente, de afinidades, que procura intervir diretamente na defesa dos interesses económicos, sociais e culturais dos indivíduos.

2- A prática desta aliança baseia-se nos problemas concretos e nos interesses imediatos e mediatos dos indivíduos. A sua acção visa simultaneamente, a melhoria do quadro do sistema social vigente das condições de vida de todos os explorados e a emancipação dos indivíduos. A edificação de uma sociedade assente no comunismo libertário e a substituição da organização autoritária capitalista por uma confederação de comunas livres locais, igualitárias e libertárias, constitui o objectivo final da Carbonária.

3- A Carbonária pratica e defende a união livre e solidária dos indivíduos, as suas assembleias destinam-se a chegar a acordos livres, os seus membros são autónomos.

4- A utilização do método da acção directa e o recurso à arma da solidariedade constituem dois aspectos essenciais da prática da Carbonária.

5- A Carbonária é uma associação internacionalista, defende a existência de uma solidariedade prática entre os indivíduos e povos de todo o mundo.

Sendo internacionalista é consequentemente anti-militarista. A Carbonária opõe-se a que os indivíduos e os povos de todo o mundo sejam carne para canhão das guerras inter-estados e inter-capitalistas, que se matem uns aos outros para defender interesses capitalistas, religiosos ou de Estados nacionais. À divisão da sociedade humana em Estados nacionais e à competição religiosa e económica capitalista, o colectivo opõe a união pelo livre acordo, todos os indivíduos, povos ,países e regiões do mundo na base da supressão do trabalho assalariado e da instauração de uma efectiva igualdade social. A Carbonária combate todas as manobras da classe dirigente e exploradora (nacionalismos, racismo, etc.) que visam dividir os indivíduos e a classe explorada.

6- Na Carbonária não existem funções deliberativas ou executivas, nem representantes eleitos ou cargos remunerados. Existem sim, órgãos com funções de relacionamento e organização que são revogáveis a qualquer momento

7- A Carbonária baseia-se nos princípios do federalismo anarquista, rejeita toda ou qualquer tipo de coacção ou imposição, de maiorias ou minorias, ou seja , baseia-se no principio da autonomia dos indivíduos e das suas associações.

8- A Carbonária na o tem qualquer ajuda financeira de entidades exteriores as suas receitas são os donativos dos seus membros ou aderentes e as provenientes de acções e edições de propaganda.

9- A Carbonária baseia-se no principio da responsabilidade individual ou seja , a Carbonária é solidária com qualquer um dos seus membros e/ ou libertários que sejam objecto de repressão, sejam eles pacifistas ou insurrecionalistas. A Carbonária desresponsabiliza-se de actos isolados que não tenham sido discutidos e aceites por livre acordo.

10- A Carbonária procura estabelecer alianças com outras organizações revolucionárias, indivíduos e colectivos afins, com o intuito de levar a cabo acções nacionais e internacionais comuns estas alianças não serão nunca estabelecidas com partidos políticos ou organizações que aceitem o estado com factor de organização social.

11- A Carbonária dá especial atenção à defesa dos interesses das camadas pobres e discriminadas da sociedade sejam: minorias étnicas, deficientes, presos, idosos, transexuais e outros grupos que não encaixem no status e estériotipos vigentes.

A Carbonária defende a igualdade social, a diversidade, a solidariedade e a cooperação voluntária ou a união pelo livre acordo, rejeita portanto a família-instituição e as relações baseadas na coacção e defende consequentemente o amor livre e a liberdade no amor e as uniões livres amorosas. Para a Carbonária a liberdade é insubstituível.

PACTO ASSOCIATIVO DA FEDERAÇÃO ANARQUISTA IBÉRICA

Princípios

A F.A.I. constitui uma união federativa, isto é, livre, igualitária e solidária, de grupos de afinidade e, excepcionalmente, de individualidades. A sua função é assegurar a existência, na Ibéria, de uma efectiva coordenação das actividades dos diferentes grupos e indivíduos anarquistas, para que seja possível a realização de uma revolução social que, suprimindo a instituição-propriedade e o trabalho assalariado, instaure uma sociedade baseada no comunismo anárquico.

A F.A.I. luta por uma ordem não imposta, sem governo, sem autoridade de espécie nenhuma e sem exploração; uma ordem baseada na liberdade de cada ser humano, na igualdade social, no livre acordo, no apoio-mútuo e na solidariedade humana.

A F.A.I. é uma associação coerente e, consequentemente, internacionalista; encara a revolução social na Ibéria como parte integrante de uma revolução mundial anarquista. Opondo-se a qualquer forma de nacionalismo, colonialismo ou imperialismo, a FAI defende a existência de uma solidariedade prática entre as classes espoliadas, pobres e governadas do mundo inteiro, no quadro de uma luta revolucionária que vise a destruição do capitalismo internacional e a abolição das fronteiras nacionais: o seu objectivo mais amplo é a união federativa (livre, igualitária e solidária) das diversas comunidades, povos e regiões de todo o mundo.

A FAI combate o estado, sob todas as suas formas (monarquia, república, democracia, representativa ou popular, ditaduras de qualquer tipo…). Par esta federação, só através da acção dos oprimidos e a liquidação do Estado pelos próprios governados conduzirão à libertação do ser humano.

A FAI luta pela sociedade anarquista unicamente por meios anárquicos, através da acção directa, e não por meios políticos, reformistas e/ou legalistas.

Esta federação não é legalizável nem institucionalizável. A sua acção baseia-se unicamente na capacidade dos seus aderentes, na solidariedade anarquista internacional e na liberdade conquistada. A FAI não se move no terreno das “liberdades” concedidas e regulamentadas pelo Estado.

A FAI não fará qualquer tipo de acordo com instituições ou organizações de natureza política ou religiosa.

De acordo com a sua prática, que põe em causa o princípio metafísico ou religioso da autoridade, em que se fundamentam as várias formas de escravização dos indivíduos, esta federação declara-se racionalista e ateia. A FAI combate a religião, sob todas as suas formas.

Conforme as suas ideias anti-religiosas e racionalistas, esta federação luta pela instauração de um meio social que se baseie na liberdade individual e que tenha como objectivo o desenvolvimento integral de cada ser humano. Considera, por outro lado, que esse desenvolvimento individual não será possível separado da questão social e que só poderá existir dentro da sociedade livre preconizada.

A FAI combate os sindicatos burocratizados ou oficiais, dado que estes impedem o desenvolvimento da acção directa dos trabalhadores e procuram limitar as lutas sociais ao campo da legalidade democrática, visando transformar o proletariado numa peça ou componente domesticado do capitalismo democrático do chamado Estado de Direito.

A FAI recusa qualquer forma de cooperação com indivíduos, grupos e associações que, declarando-se libertários mas colaborando com instituições de poder, procuram transformar o movimento libertário num componente da sociedade democrática, por considerar que têm uma atitude anti-anárquica. A FAI só cooperará com quem recuse activa e coerentemente o Poder sob todas as suas formas.

MEIOS

A insurreição, anti-estatal e anti-capitalista, e a obra construtiva da revolução social constituem o objectivo global desta união federativa. O seu método é a acção directa, considerada na sua mais ampla e dinâmica expressão revolucionária e construtiva.

Através de um trabalho de propaganda especificamente anarquista, do exemplo prático construtivo e de uma intervenção prática em vários meios sociais contra as diversas manifestações concretas da usurpação estatal e capitalista, a FAI luta pela eclosão de um movimento insurgente, que ponha em causa a totalidade da sociedade autoritária, e pela capacitação dos oprimidos para as tarefas construtivas da revolução social.

CONSTITUIÇÃO E RELAÇÕES

A base fundamental da FAI são os grupos de afinidade e excepcionalmente, as individualidades federadas.

O apoio-mútuo constitui a principal relação que os federados estabelecem entre si.

A actividade e funcionamento da FAI baseiam-se em pactos livres.

Os federados estão vinculados entre si por este pacto associativo, que só pode ser alterado por vontade expressa de todos os aderentes, e por um livre acordo unânime sobre a estratégia da FAI.

ORGANIZAÇÃO, ADESÃO E QUOTIZAÇÃO

O comité Peninsular da FAI desempenha funções de carácter relacionador ou orgânico, e não funções de direcção ou executivas. Este Comité será eleito numa Conferência ou num Pleno, por prazo limitado, mas qualquer indivíduo que o integre, assim como o próprio Comité, é destituível a todo o momento.

Os Grupos de uma Localidade ou de uma Região poderão formar Federações locais ou Regionais e nomear Comissões Relacionadoras, com funções de carácter coordenador, relacionador ou orgânico, e não funções de direcção ou executivas. Estas C.R. serão nomeadas em plenos do âmbito correspondente.

A Conferência de Grupos é o órgão decisório máximo da FAI. Os acordos aí adoptados são vinculadores para todos os aderentes, e só poderão ser modificados noutra Conferência.

A FAI realizará plenos onde serão adoptados acordos que nunca poderão traduzir qualquer modificação dos acordos da Conferência. Nos Plenos será também coordenada a concretização dos acordos adoptados em encontros anteriores.

A pedido dos Grupos, o Comité Peninsular e as Comissões Relacionadoras poderão convocar Plenárias, que são reuniões de trabalho e confrontação de âmbito Local, Regional ou Peninsular. Os assuntos tratados nestas reuniões deverão estar restringidos ao âmbito da respectiva convocação.

Na FAI, os acordos são adotados por unanimidade.

Dado que qualquer encontro é convocado com o conhecimento e a participação de todos os grupos e que todos têm a possibilidade de participar, directamente ou enviando, por escrito, os seus acordos, os grupos que não estejam presentes num determinado encontro nem tenham feito chegar a este os seus acordos, renunciam, consciente e responsavelmente, a participar nesse encontro, e, por conseguinte, aceitam e assumem os acordos que aí venham a ser adoptados.

Para que um indivíduo ou grupo adira a esta federação, é necessária uma proposta de um federado ou de um grupo nesse sentido e a aprovação de um Pleno do respectivo âmbito territorial. Qualquer adesão será ratificada num Pleno Peninsular.

Não poderão aderir a esta federação indivíduos que explorem o trabalho alheio, que exerçam funções na máquina repressiva ou que pertençam a organizações de carácter político ou religioso, à maçonaria ou outras seitas, ou a sindicatos cujos métodos e fins choquem frontalmente com os postulados anarquistas.

Cada grupo e cada aderente é plenamente responsável pelos seus próprios actos. Cada grupo será responsabilizado pelo cumprimento dos acordos que tenha adotado.

Nenhum federado pode violar o disposto neste pacto.

Cada grupo pagará mensal e directamente ao Comité Peninsular, ou através da Comissão Relacionadora do seu âmbito territorial, uma quota por federado, cujo montante será estipulado numa Conferência ou num Pleno. As quotas destinar-se-ão a custear os gastos inerentes ao funcionamento do Comité Peninsular e da Federação.

O pagamento destas quotas exprime a renovação mensal da adesão do grupo a esta federação. Em casos excepcionais em que o grupo não possa pagar, explicações pertinentes desse facto servirão de renovação da adesão. Por conseguinte, qualquer grupo que não apoie economicamente o conjunto da federação na quantia estipulada, e que não dê explicações apropriadas no primeiro encontro que for realizado desde que deixou de quotizar, será considerado voluntariamente fora da federação.

(Este Pacto Associativo foi adoptado em Conferência realizada em finais de 1996)

O MEDO GLOBAL

Os que trabalham têm medo de perder o trabalho.
Os que não trabalham têm medo de nunca encontrar trabalho.
Quem não tem medo da fome, tem medo da comida
Os automobilistas têm medo de caminhar e os peões têm medo de ser atropelados
A democracia tem medo de recordar e a linguagem tem medo de dizer.
Os civis têm medo dos militares, os militares têm medo da falta de armas, as armas têm medo da falta de guerras.
É o tempo do medo.
Medo da mulher à violência do homem e medo do homem à mulher sem medo.
Medo dos ladrões, medo da policia.
Medo da porta sem fechadura, ao tempo sem relógios, ao menino sem televisão, medo da noite sem pastilhas para dormir e medo do dia sem pastilhas para despertar.
Medo à multidão, medo da solidão, medo ao que foi e ao que pode ser, medo de morrer, medo de viver.

Eduardo Galeano

Competição vs apoio mutuo

Porque é que o mundo está repleto de violência e agressividade? Porque é que que são tão frequentes as hostilidades e as crueldades entre os homens? Porque é que, se somos tão inteligentes não podemos evitar o caminho para a autodestruição? Qual pode ser a resposta? A mais cómoda é afirmar que o homem é um ser agressivo por natureza, e como tal fica justificado que haja guerras, miséria, exploração do homem pelo homem. As mal interpretadas teorias darwinistas sobre a origem do homem e a sua evolução, que giram em torno da ideia da selecção natural e adaptação ao meio dos mais fortes, que sufocam os mais débeis, dá lugar a uma concepção do ser humano como um ser egoísta, agressivo e competitivo.

Nós não partilhamos dessas teorias, pois temos em conta que, por um lado, é o instinto de sociabilidade e apoio mutuo que, tanto nos animais não humanos como nas pessoas, tem permitido a evolução e adaptação através do tempo e por outro lado é a condição de educabilidade do homem e da mulher que nos faz aprender formas de comportamento como a violência, a agressividade o egoísmo. Tudo isto não é tirado da manga, pois são numerosos e rigorosos, mas pouco difundidos, os estudos que corrigem essa ideia básica acerca das pessoas e animais. Damos importância ao tema pois considerar que as sociedades humanas avançam por essa luta voraz entre os seus elementos apoia as ideologias liberais burguesas (o que trabalha e é inteligente merece um ponto alto na sociedade: mentira) e fascistas (a superioridade de umas raças sobre outras).

Nós pensamos que o erradamente chamado instinto de agressividade ou de competitividade tem a sua causa na educação autoritária, na propriedade privada e no modelo patriarcal. O ser humano sobreviveu durante quatro milhões de anos e é em uns milhares nos quais nos temos “civilizado”, que estamos a conseguir acabar com o mundo inteiro. O que tem mais peso, o instinto de sociabilidade, apoio mutuo e solidariedade que prevaleceu durante tanto tempo ou esta civilização vaidosa que está a matar-nos a ritmo acelerado.

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