A Igreja e a Maçonaria

Lendo outro dia um artigo num jornal maçônico acabei por curiosidade adquirindo um livro escrito por um Bispo da Igreja Católica que faz uma analise crítica sobre o Maçon o Católico e suas incompatibilidades. Percebe-se que a preocupação do Autor não é a de esclarecer aos leitores mais divagar na polemica do tema. Muito embora desatualizado conseguiu chegar a 5ª edição razão porque para não incentivar a venda deixarei de consignar maiores informações da obra.

Escrito em XI capítulos o trabalho aborda a história da nossa ordem em detalhes expondo até mesmo os segredo que guardamos com tanta responsabilidade. No mínimo um desrespeito aos nossos sentimentos uma agressão gratuita. Penso que o trabalho seja a prova inequívoca do ditado “ O amor e o ódio são fáceis da mesma moeda “. Tenho a absoluta convicção de que seu Autor foi vitima de alguma esfera preta ao tentar ingresso em nossa ordem e a vingança deu-se mais tarde em forma de livro.

O trabalho é fruto de pesquisa e seu Autor expõe nossa Instituição até às vísceras. Talvez esse seja o principal propósito do livro. Ao final, conclui seu Autor baseado em decisões doutrinárias da Igreja e da nossa Ordem, _O Católico praticante não pode ser Maçon. Fazendo referencia aos nossos postulados assinala que uma das obrigações do Maçon é “professar perfeita adesão aos princípios fundamentais da maçonaria”. Considerando que esses princípios entram em choque com os da Igreja conclui-se que é impossível que um Católico seja Maçon. Ainda segundo o Autor nada impede ao Católico que venha a ser iniciado nos augustos mistérios de nossa Ordem, entretanto, sentencia ele, deverá abandonar a Igreja. O que me causa espécie é que o trabalho não foi feito por um estudioso qualquer de assuntos da Igreja, diríamos um Vaticanista, mas por um Bispo da Igreja Católica, a mesma que muito Maçons ,como eu , aprendeu a admirar e respeitar mesmo professando religião diferente. Tratando-se de um religioso, homem de fé cuja função é esclarecer, orientar e instruir, a despreocupação de seu trabalho trazendo ao público aspectos secretos de nossa ordem como senhas, contra-senhas, toques e palavras de passe me causou tristeza e indignação. Nos seus relatos sequer os graus filosóficos foram poupados. Ouso até mesmo em afirmar que pelo conhecimento demonstrado não é de hoje que seu Autor vem estudando Maçonaria o que evidencia uma certa fixação sobre o assunto. Se considerarmos a posição que o Autor ocupa dentro da Igreja, e o correspondente valor no nível social podemos concluir que faltou mesmo cautela e respeito para uma Instituição, que como ele próprio reconhece, tem prestado relevantes serviços a humanidade.

Todas as informações Maçônicas pelas quais o Autor buscou fundamentar as incompatibilidades para com a Igreja são muito antigas. Existem trechos por exemplo que fazem referencia a documentos e pronunciamentos remotos como um fascículo de 1930 do Oriente de São Paulo. Em outro momento, discorrendo sobre os critérios de seleção para o ingresso é feita referencia a um pensamento, sem citar sua autoria, que diz: “Não é maçon quem quer e sim quem pode ser”. Seguindo assim alega que a Instituição é elitista e capaz de negar o ingresso a candidatos que não gozam de boa reputação social e financeira. Conheço um principio da Igreja que diz que todo Católico é candidato a assumir o trono de Pedro. Isso nunca foi aplicado ao pé da letra.

Na leitura percebe-se que nosso Irmão, o Bispo-Autor, confunde os dogmas da igreja com as decisões e posições de nossa Ordem através dos tempos. Nas várias lojas Maçônicas espalhadas pelo mundo existem homens de todos os níveis sociais. Laborou em equivoco nosso Bispo.

O que é lamentável é que as teses defendida no livro acabam indo de encontro com atitudes e posicionamentos do anterior Chefe da Igreja. O Papa Joannes Paulus II teve uma obstinada conduta pela reconciliação. Era visível que o interesse do Papa Peregrino era o de se desculpar pelos erros cometidos no passado e com isso reconciliar com grupos, povos e Instituições. Por conta disso foi revisto o processo que condenou Galileu Galilei (que afirmava que o Sol, e não a Terra, é o centro do Universo), foi pedido perdão pelos exageros da Inquisição e pela atuação dos religiosos na escravidão. João Paulo II se aproximou de anglicanos, luteranos, ortodoxos, judeus e muçulmanos, num esforço para derrubar barreiras e construir pontes. Ele também pediu desculpas a índios e negros pelos excessos ocorridos na colonização das Américas e pela cumplicidade com a escravidão. Não me consta, é verdade, que tenha feito alguma referencia aos Maçons.

Um dos primeiros gestos de João Paulo II em favor da reconciliação se deu na celebração ecumênica feita com o arcebispo de Canterbury, Robert Runcie, o líder e primaz da Igreja Anglicana, em 29 de maio de 1982. No fim da cerimônia os dois lançaram uma declaração conjunta e anunciaram a constituição de uma comissão teológica católico-anglicana. Em 11 de dezembro do ano seguinte o Papa faria a primeira visita de um Pontífice Romano a uma congregação luterana, a de Roma.

Como não bastasse o Papa fez uma visita a um templo judaico, tornando-se o primeiro Pontífice a entrar em uma sinagoga desde São Pedro. A visita de João Paulo II à sinagoga central de Roma, quando rezou ao lado do rabino-chefe Elio Toaff e do presidente da comunidade judaica da capital italiana, Giacomo Saban, marcou uma virada nas relações entre a Igreja Católica e o judaísmo, historicamente tumultuadas e marcadas por acusações de ambos os lados. Discursando aos judeus na sinagoga, o Papa falou:

– Temos com a religião hebraica relações que não temos com nenhuma outra religião. Sois os nossos irmãos prediletos e, de certo modo, poderia dizer que sois os nossos irmãos maiores.

O encontro rendeu frutos, embora ainda fossem precisos mais sete anos para que o Vaticano e o estado de Israel estabelecessem relações diplomáticas, botando de lado as desconfianças mútuas. João Paulo II, provavelmente o primeiro dos Papas (com a óbvia exceção de Pedro) a conviver com judeus na infância, foi muito elogiado pela comunidade judaica quando disse:

– O anti-semitismo é um crime. Você não pode ser cristão e anti-semita ao mesmo tempo.

Ainda como fruto da disposição de incentivar o ecumenismo, em 1986 o Papa celebrou o Dia Mundial de Oração pela Paz na cidade de Assis, na Itália, ao lado de representantes de diversas religiões. Outro episódio marcante e inédito ocorreu quando, em 5 de maio de 1991, dois bispos luteranos rezaram ao lado de João Paulo II e de dos bispos católicos de Estocolmo e Helsinque na Basílica de São Pedro. Foi a primeira vez que luteranos participaram de uma celebração no Vaticano desde a Reforma Protestante – que levou à divisão que fez surgir a Igreja Luterana.

A cerimônia ecumênica abriu caminho para que, em 31 de outubro de 1999, as igrejas Católica e Luterana assinassem um documento, a “Declaração conjunta sobre a doutrina da justificação”, sobre a questão da salvação – que por séculos as separou.

Também em 2001 João Paulo II pediu desculpas às vítimas de abuso sexual cometidos por padres. As desculpas foram endereçadas a freiras que teriam sofrido os abusos. No mesmo dia, 22 de novembro, o Papa pediu perdão aos aborígenes australianos e aos povos nativos da Oceania pelas vergonhas e injustiças que sofreram durante a expansão do cristianismo no continente. No mesmo ano ele enviou semelhante pedido aos chineses. Na ocasião, João Paulo II afirmou:

– A Igreja não pode temer a verdade histórica.

Em 2001 o Papa esteve em Atenas, para uma reunião com a cúpula da Igreja Ortodoxa – reticente em relação a uma aproximação com o papado, que para os bispos ortodoxos está interessado apenas em fazer proselitismo e estender seu poder para o Leste – e em Damasco, onde encontrou líderes muçulmanos. João Paulo II foi o primeiro pontífice a entrar numa mesquita, a dos Omíadas, para orar na tumba em que estaria enterrado São João Batista. No templo, insistiu que cristãos e muçulmanos pedissem perdão pelos pecados cometidos.

Em janeiro de 2002, MOTU PROPRIO, o Papa definiu diretrizes para julgar os casos de pedofilia e abusos sexuais cometidos por integrantes da Igreja. No documento, João Paulo II autorizou a Congregação para a Doutrina da Fé a criar regras para lidar com os temas. Em mais um MEA-CULPA católico, o Pontífice lamentou os incidentes ocorridos com adolescentes e crianças.

Uma igreja tão atual não poderia permitir que um de seus representantes agisse assim como o nosso Bispo irmão. Se a igreja reconhece seus erros (erros graves) e pede desculpas ao mundo porque não perdoar os da nossa Ordem (se de fato eles existem) e buscar uma reconciliação. Não tenho informação de que a igreja tenha se posicionado a favor da nossa Instituição e a liberdade de expressão até autorizaria a publicação do livro mais não com as agressões injustificáveis cometidas pelo Autor .

É notória a ligação da Maçonaria com a Igreja Católica como notório é também que muitos membros da Santa Igreja, iniciados no passado tiveram colaboração decisiva nas questões políticas contribuindo assim para os destinos do Brasil. Podemos dizer que somos irmãos na dor e na perseguição. Fomos perseguidos pela igreja, excomungados por ela, mais muitos padres e Bispos também o foram pela esquerda no leste europeu.

Nada justifica ataques à nossa Ordem, à seitas ou religiões. As transformações experimentadas por nós e sofridas pelo planeta sinalizam a cada dia que passa uma necessidade crescente de entendimento, de união, de conciliação. Mais do que nunca é chegado o momento da humanidade ascender , em conjunto, na escala espiritual. E os que chegarem sozinhos serão responsabilizados.

BRUNO EMILIO ARLS ADONAI 1377 RJ
CIM 170.732

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