Afinal, Qual é o Seguedo Maçônico!

O “segredo maçónico” é daquelas coisas a que a curiosidade da sociedade, certa comunicação social, e alguns setores mais “aguerridos” não resistem. A maçonaria é coisa de que só recentemente se fala às claras e na praça pública: antes só merecia comentários em surdina, meias palavras e olhares de desagrado, invariavelmente acompanhados de desinformação, descontextualizados e eivados de preconceito.
Uma boa parte da responsabilidade é dos próprios maçons. Perseguidos anos a fio, mantiveram-se a partir de certo ponto de tal modo “subterrâneos” e discretos que não se preocupavam, sequer, com o que deles diziam – quanto mais preocuparem-se com a refutação pública das inverdades, e com a divulgação de informação correta sobre a maçonaria. Os tempos têm mudado, os extremismos do passado têm-se refreado, e a maçonaria começa a poder sair debaixo da pedra onde se escondeu – e os maçons começam a querer desfazer os equívocos resultantes de décadas de silêncio.
No entanto, ao fazê-lo, deparam-se com uma primeira linha de ideias feitas, de argumentos falaciosos, de cegueiras voluntárias, em referências constantes às mesmas fontes já mil vezes desmascaradas, na insistência em questões já inúmeras vezes respondidas, e na recusa em mover-se um milímetro para além dos pontos de vista anteriormente adquiridos.
O que, de início, parece ser um desafio interessante, começa a tornar-se numa desmoralizante e surda guerra de teimosias e de cansaços. É que, depois de se responder à mesma pergunta trinta vezes seguidas, de cada vez tentando encontrar uma resposta mais certeira, mais facilmente inteligível, mais passível de irradiar a dúvida, e perante a incessante repetição da mesma pergunta, vezes sem conta, acabam-se as ideias, exaure-se a imaginação, e esgota-se a paciência.
No que me concerne, tenho-me esforçado por encarar cada pergunta como uma vontade honesta de chegar à verdade. Mesmo aquelas que, colocadas de má fé, não pretendam senão passar a proverbial rasteira, merecem-me uma resposta tão cândida quanto o consigo: afinal, as respostas ficam aqui, para usufruto e benefício de quantos as quiserem ler, e pode ser que aproveitem a alguém…
Quem está de fora não pode falar de maçonaria sem falar de segredo. De facto, arrisco a dizer que o segredo é aquilo de que mais se fala “de fora” quando se fala de maçonaria. E também arrisco dizer que não se fala mais de segredo “de dentro” porque é algo já tão interiorizado que (já) não merece constante reparo. Deixem que repita uma vez mais: os “segredos” da maçonaria não passam do conteúdo dos rituais, dos meios de reconhecimento dos vários graus, da identidade dos maçons e do que se passa nas sessões.
Os dois primeiros segredos são simbólicos e rituais. O conteúdo dos rituais não tem nada de especial, e estou certo de que quem os ler esperando encontrar alguma verdade miraculosa ficará muito desapontado: simplesmente determinam quem diz o quê, quando, e em que circunstâncias, um pouco com uma peça de teatro. Também os sinais de reconhecimento são meramente rituais, e usados quase exclusivamente em loja ou à entrada de um templo maçónico. Os maçons não andam aí pela rua a fazer “sinalefas” uns aos outros
Os outros dois segredos têm que ver com a reserva da privacidade das pessoas. A identidade dos maçons só pode ser revelada pelos próprios, uma vez que muita gente ainda vê a maçonaria com maus olhos, e a revelação da condição de maçon de alguém pode, por essa mesma razão, causar-lhe dissabores profissionais, sociais ou religiosos. Por outro lado, ao guardar-se segredo do que cada um diz em loja confere-se aos participantes a liberdade de se exprimirem sem reservas, com a certeza de que as posições que revelarem, as ideias que defenderem, as atitudes que tomarem, ficarão ali.
Só errando se aprende, e a maçonaria é uma escola de aprendizagem. Cada um é convidado a dar o melhor de si, sem o medo de errar e sem temer a acusação dos demais. Longe disso, aprende-se que o mais implacável juiz de um homem deve ser ele mesmo, mas que para isso é preciso que os demais se refreiem e lhe deem espaço e tempo para que isso suceda, sempre num ambiente de confiança e de entreajuda.
Não esqueçamos que a maçonaria especulativa nasceu há mais de três séculos em Inglaterra, e que era uma escola de gentlemanship, vindo por isso bem embebida da cultura e valores desse país e dessa época. Um gentleman era, na altura (e ainda hoje…) alguém de quem se espera uma certa contenção, uma certa reserva no trato, uma dose de circunspeção que evite a precipitação nas conclusões, incessantes mudanças de opinião ou, até, a exteriorização de mais asneiras do que as circunstâncias o permitam, podendo fazê-lo cair em descrédito…
Diz-se, às vezes a brincar, que o grande segredo é que não há segredo nenhum; é quase isso. Para além do enunciado, não há mais “segredos” que possam servir seja para o que seja. Não há ingredientes mágicos,  fórmulas secretas ou passagens ocultas; apenas o salientar de uma caraterística importante num cidadão maduro. É que aprender a calar-se é algo que demora tempo, especialmente numa sociedade em que tudo é cada vez mais transparente. 
É, precisamente, para a aprendizagem do refrear-se, do não dizer tudo o que nos passa pela cabeça, do guardar o que se pretende dizer para o momento que seja mais apropriado, que serve o “segredo”.  Este não é mais do que mera ferramenta de trabalho, um exercício de vontade, no sentido de levar os maçons a aprender a guardar para si as – eventualmente injustas, possivelmente erradas, certamente precipitadas – primeiras impressões acerca do que quer que seja.
Só isto.
Paulo M.

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Leonardo Loubak
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