O Avental

Após a cerimônia de iniciação, o Venerável Mestre entrega o Avental ao Mestre de Cerimônias, para com ele revestir o neófito. O agora Maçom, só poderá entrar no Templo de sua Loja, ou de qualquer outra, vestindo o Avental. Tal insígnia maçônica, nas palavras do Irmão Assis Carvalho, “é o principal Símbolo que compõe a Indumentária Maçônica.” O Avental, para o citado autor, possui uma característica especial que o diferencia de outras insígnias:

Está presente desde os remotos tempos Operativos. O famoso escritor francês Jules Boucher define o Avental como: “essencial adorno do Maçom”. Por mais celeuma que possa ocasionar essa palavra “adorno”, pois osentido de adornar é enfeitar, decorar, e, obviamente, não é esse o principal sentido simbólico dessa indumentária, tomaremos essa definição como ponto de partida para um estudo mais aprofundado do Avental e sua função para os Maçons, tendo em vista as opiniões conflitantes muito comuns, em se tratando deste objeto de estudo. Para compreendermos melhor sua função e o porquê de suas diferentesformas, utilizaremo-nos de uma análise histórica do Avental. Contudo, ressalte-se,concentraremos nossos esforços em uma análise histórica e funcional, tendo em vista o Grau de Aprendiz, já que sabidamente, muitos dos símbolos que são ostentados em Aventais de Graus mais elevados ainda fogem e devem mesmo fugir de nossa compreensão de Aprendiz.

Antes propriamente dessa linha evolutiva, gostaríamos de estabelecer uma conexão com as palavras do Irmão francês apresentadas anteriormente.Para tanto, lembremo-nos de uma passagem inicial muito significativa e ainda muito viva nas mentes dos Aprendizes: ao entregar o avental, o Venerável Mestre diz ao neófito: “- Ele (o Avental) vos lembrará que um Maçom deve ter sempre uma vida ativa e laboriosa.” Além dessa forte simbologia relacionada com otrabalho, quase unânime entre os grandes Mestres e escritores Maçons, o Aventalé objeto de várias interpretações, tendo em vista especialmente sua configuraçãoe apresentação. O Avental do Aprendiz, com a Abeta levantada formando um triângulosobre um retângulo, significa para alguns o quaternário sendo sobreposto pelo ternário.Outros ainda interpretam o triângulo sobreposto como a alma flutuando sobre ocorpo.

No 1º Grau (Aprendiz), a alma estaria acima do corpo, aindadesligada, e a partir do 2º Grau (Companheiro Maçom), a alma já estaria dentro docorpo, fazendo desse seu instrumento e domínio.

Justamente para entendermos um pouco melhor a função e osimbolismo que o Avental carrega em si e ao cobrir o corpo físico do Maçom,mister se faz uma análise histórica do Avental.

Para alguns escritores, a origem do Avental está ligada atempos muito remotos, como o Paraíso Terrestre. Alguns irmãos vêem Adão como o inventordo Avental, representado na folha de parreira, a qual cobria seus órgãosgenitais.

Quanto a esta origem, as objeções são muito grandes, tendoem vista que a base cientifica ou mesmo filosófica para tal tipo de análise se mostrarpraticamente inexistente. Se é verdade que a Maçonaria não se pretende serapenas um sociedade cientifica e filosófica, é fato que toma como base dadoscientíficos para justificar muita de suas concepções. Ao fazer uma análise detal porte, deveria-se esperar uma explanação um pouco mais exaustiva, tendo emvista a originalidade da idéia. Contudo, pelas bases às quais tivemos acesso,tal assertiva se mostra não muito consistente. O Irmão Assis Carvalho, inclusive,demonstra uma certa ironia ao comentar tal fato, classificando como “uma fantasia,um afã criativo” enfim, conotando que a origem do Avental não está, em hipótesealguma, ligada à figura religiosa de Adão.

Outros também vêem uma origem mais que milenar para osurgimento do Avental, tendo como base os Mistérios Egípcios, Persas, Indus, entreoutros. Nesse ponto, descreveremos uma das possíveis formas de tal Aventalegípcio: era triangular, com a cúspide para cima e com vários adornos diversosdos hoje existentes. Alem disso, a faixa ao redor do corpo que o sustentava nãotinha apenas este propósito, mas estava intensamente magnetizada com o corpo.Há também, acerca deste possível Avental, descrições mais pormenorizadas sobreo Avental dos Mestres, o que, como já se afirmou, não se mostra pertinente coma proposta deste trabalho.

Contudo, vale ressaltar que se faziam presentes as rosetas euma cor azul pálida, simbolizando a inocência branca sendo substituída pelo conhecimento,o céu azul.

Mais uma vez, as objeções a esta possível origem da insígniasob análise neste singelo trabalho são muitas. Um dos mais respeitados autoresMaçons, o Irmão José Castellani, é absolutamente claro em classificar talproposição como fantasia. Um dos pontos mais significativos de sua critica serefere ao cingidor, sobre o qual o Irmão afirma: “Quanto ao simbolismo docingidor, ou seja, dos cordéis que prendem o Avental à cintura, não hácomentários a fazer, pois se trata de elucubração de ocultistas…” Taisobjetos egípcios são vistos, por este mesmo autor, como uma proteção para asvestimentas da antiga aristocracia, ou no máximo, um protetor genital.

Uma outra corrente associa o surgimento do Avental àsGuildas e corporações Medievais. Tais associações, que deram origem à MaçonariaOperária, tinham por hábito distribuir entre seus Membros, aventais para oexercício do ofício ao qual estavam ligados. Esses aventais, portanto, apresentavamentre si leves diferenças com base nos diferentes trabalhos e conhecimentoacerca do ofício em questão, tais como Sapateiro, Ferreiro Açougueiro, entreoutros. O Avental dos antigos operários da Maçonaria Operativa estava ligado àidéia de trabalho, era um instrumento do próprio. O Avental era feitopredominantemente de couro de carneiro, um couro espesso, com vistas a protegeros obreiros de labutas muitas vezes perigosas para o corpo humano. Enfim, o Aventalera uma proteção para o corpo dos maçons primitivos, cobrindo, em linhasgerais, desde o pescoço até o abdômen, sendo que o do aprendiz cobria uma partemaior do corpo do que o avental do Companheiro e do Mestre, pois como oaprendiz não possuía ainda a habilidade  necessáriacom as ferramentas, além de iniciar o trabalho na Pedra Bruta, estava sujeito afazer um uso maior do avental do que os mestres. Uso maior não em tempo, e sim,stricto sensu, de aproveitar o avental conforme sua destinação de proteger ocorpo e a roupa de quem o usa.

Com a transição da Maçonaria Primitiva para a MaçonariaEspeculativa, processo histórico que, tal como qualquer outro, quiçá maisainda, não ocorreu de forma instantânea, a figura e a função do Avental forampaulatinamente se alterando.

Ressaltamos mais uma vez que, por um considerável tempo,tanto a Especulativa quanto a Operativa conviveram, especialmente pelos relatosque se tem da Inglaterra no século XVIII.

Como exteriorização dessa relativa dicotomia entreEspeculativa e Operativa, temos na Inglaterra a existência de duas grandespotências justamente nesse século de transição. Note-se que não se trata de umacorrespondência absoluta entre ambas as dicotomias, embora ambas guardem umanão desprezível ligação. De um lado havia as Grandes Lojas dos Antigos, formadasprincipalmente por Maçons mais tradicionais, mais “conservadores”, nas quaisnão ocorreram grandes mudanças em relação ao Avental, predominando, exceto pelocouro de ovelha que passou a ser o material mais utilizado, uma relativapadronização e simplicidade nos Aventais de todos os Graus, tendo em vista que ospróprios eram adquiridos, em sua maioria, pelas próprias Lojas e concedidos aosIrmãos. Do outro, as Grandes Lojas dos Modernos, de natureza teoricamente maisdemocrática, mais aberta, as mudanças mais significativas ocorreram em relaçãoao Avental. A concepção do simbolismo do Avental decorre justamente do entendimentoque a Maçonaria Especulativa passou a conceder ao Avental. O Avental passou aser visto como um emblema da dignidade, da honra, do trabalho material ouintelectual, trabalho esse que era desprezado. Naturalmente, numa sociedademarcada anteriormente pelos senhores da terra, apenas a propriedade era vista comoalgo dignificante. A Maçonaria Especulativa alçou o Avental como símbolo dotrabalho, da labuta, ao qual o Maçom está ligado ao adentrar na Ordem,dignificando o próprio, o trabalho, perante os olhos da sociedade. Esse é ogrande significado do Avental, enquanto instrumento fundamental do Maçom. Estaé a grande razão simbólica pela qual um Aprendiz Maçom não deve adentrar em umaLoja sem estar coberto por essa indumentária. Tal insígnia não nos deixa esquecermosque a labuta é uma constante na vida do Maçom, seja em Loja ou fora dela.

Contudo, ao mesmo tempo em que as Grandes Lojas Antigasalçaram o Avental como símbolo, e, conseqüentemente, modificaram sua forma passandoa utilizar tecidos mais leves tal como o cetim, o brim e o linho, a vaidade,algumas vezes exagerada de alguns Irmãos, provocaram uma verdadeira revoluçãono Avental. Verdadeiras obras de arte, pinturas, foram realizadas nos Aventaisdas Grandes Lojas dos Modernos.

Novos símbolos, tal como roseiras, fitas, bordados, foramintroduzidos nos Aventais, especialmente dos Graus de Mestre. Enquanto nasGrandes Lojas Antigas predominavam a simplicidade destes instrumentos Maçônicostão

preciosos, principalmente no Grau de Aprendiz, sendo obranco predominante, até pelo material utilizado, o couro de ovelha, nasGrandes Lojas Modernas houve uma radical transformação exteriorizada naspinturas das Abetas, na criação de laços, pinturas de novos símbolos, entre outros.Quanto maior o Grau, maiores as “sofisticações” encontradas.

Quanto a esta sofisticação dos Aventais, e esta nova funçãode certa forma “decorativa”, dois comentários se mostram muito pertinentes. O primeiro,tendo como base assertivas de Assis Carvalho, tendo como objeto o CavaleiroMiguel André de Ramsay, codificador do Rito Escocês.

Buscando negar a origem Operativa da Maçonaria, e afirmaruma origem Nobre, como sucessores dos Templários, de Jacques De Moley, o IrmãoRamsay impulsionou a criação de Graus e nomes pomposos na Maçonaria e, conseqüentemente,os mais belos e ricos Aventais foram sendo também criados. Além disso, cabeagora relembrarmos a definição introduzida no começo de nosso trabalho, atribuídaa Jules Boucher: “o Avental constitui-se no essencial adorno do Maçom.”Raimundo Rodrigues explica que a palavra adorno tem o sentido de enfeite,decoração. Conclui ele na imprecisão de sintaxe no uso de tal palavra, já que afunção fundamental ou essencial do

Avental seria simbolizar o trabalho ao qual os Maçons devemse entregar. Contudo, fazendo uma outra análise,  podemos compreender a utilização de talvocábulo, visto que, para muitos Irmãos, a utilização do Avental ficou muitoligada à idéia de enfeitar-se para quando da participação em Loja. Aliás,conforme relata Assis de Carvalho, eram comuns os Maçons das Grandes LojasModernas saírem das sessões e caminharem por Londres devidamente trajados, felizesna utilização de seus Aventais, enquanto os Maçons das Grandes Lojas Antigas,por estarem acostumados a utilizar o Avental quando em oficio, visto que muitosainda eram Operários, utilizarem apenas os simples Aventais quando em Loja oujustamente no local de labuta.

Em 1813, com a unificação das duas grandes PotênciasInglesas, houve também a edição de um normativo regulamentando e padronizandoos Aventais, de forma a coibir os inúmeros abusos.

Logicamente, alguns símbolos introduzidos ao longo do tempoforam consolidados, mas os exageros cessaram, e, até hoje, pelo que afirma AssisCarvalho, não houve grandes mudanças nos Aventais Ingleses, caracterizados pelorito York.

Vale ressaltar também o Congresso Mundial dos SupremosConselhos em Lausane, datado de 1875. Nesse encontro, decidiu-se também por umapadronização dos Aventais utilizados pelos seguidores do Rito Escocês Antigo eAceito.

Nesse ponto, o autor Assis de Carvalho faz uma criticaexpressa aos seguidores de tal rito no Brasil, tendo em vista as seguidasmudanças do Avental aqui ocorridas nas últimas décadas, levando em conta que oR:.E:.A:.A:. não assistiu a grandes mudanças em outros países. Como últimoponto a se destacar do Avental Maçônico, gostaríamos de nos focar na Abeta.

Muitos estudiosos Maçons procuram dar significados à suaposição em relação ao Avental.

Outros, entretanto, apoiando-se na experiência histórica emesmo em fotografias antigas, têm demonstrado que a Abeta não tem um sentido simbólico,pelo menos em sua origem. Antony Sayer, primeiro Grão Mestre da Loja daInglaterra (1717), está caracterizado em fotos com uma Abeta levantada.Ressalte-se que ele era Mestre e que sua Abeta estava levantada. A utilizaçãoda Abeta para baixo ou para cima está, segundo esses autores, mais ligada,originalmente, à praticidade do que a qualquer simbolismo. A Abeta erautilizada pelos Irmãos Operativos para prender o Avental à camisa, tendo propositalmenteum espaço próprio para este botão. Alguns irmãos baixavam a Abeta como forma deesconder imprecisões, desgastes de alguns Aventais. Alem disso, a formatriangular ou oval não apresentava também qualquer significado. Atualmente, seadmite a diferença no posicionamento para se caracterizar o Grau, o que podeser considerado muito válido. Contudo, originalmente, pela análise histórica daAbeta, há autores que defendem a inexistência de um simbolismo próprio. Alémdisso, como já se afirmou anteriormente, as correias que prendiam as Abetas aocorpo dos Maçons Operativos, tanto no pescoço como na cintura, nada tinham de especial.Eram apenas correias, sem nenhum magnetismo ou coisa do tipo.

Finalizando, o Avental simboliza, em uma primeira impressão,ainda no cerimonial de Iniciação, trabalho, labor, labuta. O que podemos aprendercom significado de trabalho do Avental?

Que todo Maçom deve dedicar- se ao trabalho diariamente, e,quando ele está em Loja, ou, mais propriamente ao tema, quando ele está na Oficina,o trabalho é simbolizado pelo uso do Avental.

Mesmo havendo posicionamentos diferentes com relação aosimbolismo do avental ou ao seu uso prático, não há como deixar de mencionar-sea interpretação mais aceita e oportuna com relação a essa indumentária. Aodesbastar a Pedra Bruta com o maço e o cinzel, o avental protege o Aprendizcontra a poeira e os estilhaços provenientes de seu ofício. Cumpre o papel que semprecumpriu, a saber, o de servir como uma peça extra de proteção no manuseio, por exemplo,da pedra e até mesmo como um meio de transporte de pedras (e outros materiais)de um lugar para outro. O avental, dessa forma, está protegendo o Irmão das conseqüênciasdo seu trabalho de aprimoramento constante e da eliminação de seus defeitos.Graças à proteção do avental, a roupa do Irmão, como se fosse sua reputação,está a salvo da sujeira representada pela poeira e os resquícios dos defeitosinerentes a todos nós, seres humanos.

Cumpre, sobretudo, o Avental, o seu papel de um dos maisimportantes Símbolos da Maçonaria e de elo entre aqueles que o portam, comoIrmãos Maçons, unidos, através dessa indumentária, pela fraternal amizade.

Bibliografia
Ritual do R:.E:.A:.A:.
CARVALHO, Assis. O Avental Maçônico e outros
Estudos, 2a ed., Londrina: Ed. Maçonica “A Trolha”, 1997;
CARVALHO, Assis. Ritos & Rituais, 1a ed.,
Londrina: Ed. Maçonica “A Trolha”, 2001;
CASTELHANI, José. Manias e Crendices em Nome da Maçonaria, 1a ed., Londrina:Ed. Maçonica “A Trolha”, 2002;
RODRIGUES, Raimundo. Visão Filosófica da Arte Real, 1a ed., Londrina: Ed.Maçonica “A Trolha”, 2002;

Texto extraído do Informativo “O V I G I L A N T E” da Loja Maçônica
Vigilantes da Lei (Jurisdicionada à GLMERJ).
Rio de Janeiro – Ano II – Nº20 –Agosto de 2009
http://www.vigilantesdalei.org.br/ovigilante.php

Fonte:  http://www.vigilantesdalei.org.br

Leonardo Loubak
Leonardo Loubak
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