O QUE ACONTECEU NO DIA 7 DE SETEMBRO DE 1822 ÀS MARGENS DO IPIRANGA?
Embora a História oficial não conte, alguns historiadores relatam, com base em depoimentos de participantes da comitiva do Príncipe, que D. Pedro, regressando de Santos, vinha afetado por uma disenteria que o obrigava a todo momento apear-se para prover-se. Mas não citam a fonte dessa informação.
Esse relato ouvi pela primeira vez no primeiro ano da faculdade, pelo professor de História Econômica do Brasil, que me chocou, acostumado com a Historia oficial contada nos livros didáticos. Evidentemente em seu relato usou uma linguagem popular e acrescentou o motivo pelo qual D. Pedro estava às margens do Ipiranga: “por que na época ainda não haviam inventado o papel higiênico”. .
Mas esse relato de alguns historiadores, que a História oficial não conta, confirma-se ser verdadeiro numa carta publicada em 1826 pelo Maçom e Cônego Belchior Pinheiro de Oliveira (Nome Histórico Sócrates, membro da Loja Commercio e Artes e atuante no movimento patriótico para a Independência do Brasil desde 1812).
Também relata quais foram os documentos efetivamente recebidos por D. Pedro na ocasião, sua raiva ao tomar conhecimento do conteúdo deles e, sobretudo, como declarou a Independência do Brasil.
O Cônego Belchior Pinheiro de Oliveira era amigo e confidente de D. Pedro e participava sempre das comitivas do Príncipe quando visitava outras províncias, como a de 25 de março a Minas Gerais e nessa a São Paulo.
Eis o trecho que nos interessa da carta:
“O Príncipe mandou-me ler alto as cartas trazidas por Paulo Bregaro (correio) e Antonio Cordeiro (Major que o escoltava)
“Eram elas: uma instrução das Cortes, uma carta de D. João, outra da Princesa, outra de José Bonifácio e ainda outra de Chamberlain, agente secreto do Príncipe.
“As Cortes exigiam o regresso imediato do Príncipe, a prisão e processo de José Bonifácio; a Princesa recomendava prudência e pedia que o Príncipe ouvisse os conselhos de seu Ministro; José Bonifácio dizia ao Príncipe que só havia dois caminhos a seguir: partir para Portugal imediatamente e entregar-se prisioneiro das Cortes, como estava D. João VI, ou ficar e proclamar a Independência do Brasil, ficando seu Imperador ou Rei; Chamberlain informava que o partido de D. Miguel, em Portugal, estava vitorioso e que se falava abertamente na deserdação de D. Pedro em favor de D. Miguel; D. João aconselhava ao filho obediência à lei portuguesa.
‘D. Pedro, tremendo de raiva arrancou de minhas mãos os papéis e, amarrotando-os, pisou-os, deixando-os sobe a relva. Eu os apanhei e guardei.
“Depois, abotoando-se e compondo a fardeta, pois vinha de quebrar o corpo à margem do riacho Ipiranga, agoniado por uma disenteria com dores, que apanhara em Santos, virou-se para mim e disse:
- E agora Padre Belchior?
E eu respondi prontamente: - Se V. Alteza não se faz Rei do Brasil, será prisioneiro das Cortes e talvez deserdado por elas. Não há outro caminho senão a Independência e a separação.
“D. Pedro caminhou alguns passos, silenciosamente, acompanhado por mim, Cordeiro, Bregaro, Carlota e outros em direção aos nossos animais que se achavam à beira da estrada. De repente estacou-se, já no meio da estrada, dizendo-me: - Padre Belchior, eles o querem, terão a sua conta. As Cortes me perseguem, chamam-me com desprezo de Rapazinho e de Brasileiro. Pois verão agora quanto vale o Rapazinho.
De hoje em diante estão quebradas as nossas relações, nada mais quero do Governo português e proclamo o Brasil para sempre separado de Portugal.
Essa é a História que a História não conta, relatada por uma testemunha ocular e auditiva do que ocorreu às margens plácidas do riacho Ipiranga.
Mas, se depois que D. Pedro disse o que o Padre Belchior disse o que D. Pedro disse, D. Pedro disse o que a História oficial disse o que D. Pedro disse, fica a critério do leitor.
Excertos do livro A História que a História não conta: A Maçonaria na Independência do Brasil
Irm.’. Almir Sant’Anna Cruz
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