A ESPADA

A espada surge pela primeira vez com a metalurgia na idade do bronze. Podemos afirmar que é um dos símbolos do fogo. Michael Mier, discípulo de Paracelso diz mesmo que a espada “’é o fogo interior…atraído e inflamado pelo fogo da fornalha, que é marcial e exterior…porque o fogo torna tudo poroso e permeável, pelo que a água pode penetrar, dissolver e tornar macio o que é duro.’’.
A espada, no Rito Escocês Rectificado assume vários significados. Em primeiro lugar, trata-se de uma questão sociológica. Sendo um Rito que herda espiritualmente uma herança templária que está intimamente ligada à Nobreza e às suas Ordens Cavaleirescas, não é de estranhar que os Maçons que inicialmente praticavam este Rito, que surge em França na segunda metade do século XVIII, a usassem no seu dia-a-dia. Se recuarmos para trás no tempo, através do que a história nos transmite, observamos que os primeiros Maçons pertenciam à Nobreza. Sendo portanto nobres, seria costume que utilizassem espada.
Então, nessa época, qual ou quais os seus significados para o uso da espada? Essencialmente dois: defesa pessoal e simbolismo da sua posição social. Em relação à defesa pessoal pouco haverá a dizer, pois é óbvio o seu significado. No que concerne ao simbolismo da sua posição social já se poderá dizer mais. Sabemos que naquela época quem usava espada era alguém com alguma importância. Essencialmente a espada era sinónimo de poder e de relevância na sociedade por várias razões. Começando com a razão de que não estava acessível a todos. Fazer uma espada não estava ao alcance de qualquer um. Uma espada para ser considerada uma boa espada necessitava de ser feita por um artesão experiente que demorava o tempo e os recursos necessários encarecendo de certa forma o seu valor. Poderá dizer-se que uma espada naquele tempo era uma obra de arte. Estas espadas eram únicas e algumas inclusive tinham nomes próprios.
Outra das razões ao seu uso, que muitos defendem, é a presença dos ideais de fraternidade. Neste sentido, todos os Irmãos, plebeus ou nobres, poderiam utilizar em sessão de Loja espada, perdendo assim o seu significado de dignidade social profana, tornando todos os Irmãos iguais.
No Ritual do Grau de Aprendiz do R. E. R. a presença da espada é bastante significativa e precisa. Se analisarmos o capítulo XV do Ritual, mais precisamente na parte em que o Aprendiz recebe a luz, constatamos que todos os Irmãos lhe apontam a sua espada. De facto, este acto revela uma curiosidade: A primeira visão que o aprendiz tem é a espada. E o seu uso nesse momento é para simbolizar a força, força essa que só deverá ser utilizada em último recurso (o Ritual é bastante claro nesse aspecto e refere que essa força, simbolizada pela espada, só deverá ser utilizada para salvação da Pátria e dos Irmãos e para a defesa da Religião). É importante referir que a espada, nesse momento, está relacionada com outro conceito também. O conceito de Justiça. A utilização simbólica da espada significa que quem faltar à justiça, merece castigo e desonra.
Posteriormente, o Venerável Mestre afirma: “Primeiro viste as espadas dos II:. viradas contra ti, porque a Ordem ainda não se tinha assegurado das tuas verdadeiras disposições. Neste momento podes ver as mesmas armas desembainhadas para tua defesa…”. Entra aqui outro conceito. O conceito de defesa. As espadas que inicialmente atacavam e intimidavam passam agora a defender.
Outro aspecto marcante em que a espada tem um papel de relevo é na altura do juramento. O juramento é feito com a mão direita em cima do Evangelho e da espada do Venerável Mestre. O significado deste acto é a força da Fé na palavra da Verdade.
A utilização da espada na abertura de Loja também é bastante curiosa. Refere o Ritual que quando os Irmãos, a determinado momento desembainham as suas espadas, estas deverão ser empunhadas com a mão esquerda e com a sua ponta apoiada no chão. É curioso que as espadas fiquem apoiadas no chão, como que a transferir a sua energia condutora para o solo. Com efeito o Ritual é, mais uma vez, bastante preciso acerca deste pormenor. Não se limita a dizer que as pontas das espadas fiquem viradas para baixo. Afirma mesmo que têm que ser apoiadas no solo. Assim sendo, presumo que quem redigiu este documento estaria a pensar na utilização deste objecto como algo mais abrangente e concreto. Acho mesmo que a espada é uma espécie de fonte de energia, que a recebe, a transmite e a canaliza. Partindo deste pressuposto, a espada torna-se então pessoal e consequentemente intransmissível.
C. F.