História do Rito Brasileiro

I – UM CAVALEIRO ROSA-CRUZ

Em 1834, Miguel Antônio Dias, sob o pseudômino de UM CAVALEIRO ROSA-CRUZ, lança em Portugal, na cidade de Lisboa, o livro “Biblioteca Maçônica” ou “Instrução Completa do Franco-Maçon”, que se constituía uma obra clássica inspirada num dos mais famosos manuais franceses da época, o de François Etiene Bazot, e essa edição abrangia apenas os Ritos Francês e de Adoção. O que nos chama atenção é o Prólogo dessa importante obra, onde o autor solicitava aos Orientes de Portugal e do Brasil a criação de um Rito novo e independente, que tendo por base os Três Graus Simbólicos e comum a todos os Ritos, tivesse, contudo, os Altos graus Misteriosos diferentes e nacionais.

Sua proposta foi considerada por muitos um exagero, pois salientavam que “a Maçonaria Universal não poderia tornar-se nacional, apenas”.

Contudo, entendemos e acordamos que o autor não propunha quebrar o Landmark da Universalidade Doutrinária da Tradição Maçônica; ele o afirma nos três graus simbólicos, que seriam comuns a todos os Ritos, porém os Altos Graus “seriam formulados sob a influência do meio histórico e geográfico da Pátria em que se vive, sob sua índole, inspiração e pendores”.

O Grão-Mestre Álvaro Palmeira, consolidador do moderno Rito Brasileiro e seu Grande Instrutor-Geral, destaca que a Maçonaria é universal e una, mas em cada País assume características peculiares, consoante a história e a índole de cada povo, exatamente como acontece com a Arte, a Ciência e a Religião.

II – A QUESTÃO RELIGIOSA NAS PROVÍNCIAS DE PERNAMBUCO E DO PARÁ

O Estado Brasileiro, nos idos de 1850, com intuito de superar as dificuldades que a Igreja causava ao progresso do País, aos poucos, por meio de leis ordinárias foi paulatinamente afastando a Igreja de determinadas prerrogativas: criação do registro civil obrigatório, criação do casamento civil, construção de cemitérios pelas câmaras municipais sem qualquer dependência da autoridade eclesiástica, revisão de decisões dos padres por tribunais ou magistrados civis.

O clero achava que a Maçonaria era a fonte de conspiração dessas reformas, dando início a um embate dos bispos contra a Arte Real.

Contudo, na época, existiam inúmeros sacerdotes filiados à Ordem e pessoas ilustres que pertenciam às Irmandades religiosas e eram Maçons.

A partir de 1872, na Província de Pernambuco, com a chegada do Frei Vital Maria Gonçalves de Oliveira, Bispo de Olinda, o embate entre a Igreja pernambucana e a Maçonaria chegou ao seu clímax, proibindo que o clero funcionasse em cerimônias Maçônicas.

D. Vital de posse de inúmeros nomes de sacerdotes filiados à ordem e de maçons pertencentes às Irmandades religiosas, publicados pelos jornais, articulou-se violentamente para afastar os clérigos da Maçonaria e expulsar os Maçons das Irmandades.

As Irmandades se recusaram a expulsar seus Irmãos Maçons e foram interditadas pelo Bispo, isto é, foram proibidas de assistirem missa como sociedades religiosas. Nesta altura a contenda se estendeu para a Província do Pará, onde o Bispo D. Antônio Macedo imitava o Bispo de Olinda.

O desenrolar da história acabou por envolver o Imperador D. Pedro II, que teve sua figura aviltada pelos Bispos, que quando instados a suspenderem suas ações, não reconsideraram os seus atos, de fecharem setenta Irmandades, capelas e igrejas e procissões.

Esgotado o diálogo, D. Vital e D. Macedo foram presos após recurso do Imperador ao Conselho do Estado, pois os Bispos estavam fora da lei por negarem legitimidade ao beneplácito imperial que validava as Bulas do Papa, pois as Bulas que excomungavam os Maçons não foram submetidas a D. Pedro II.

Os clérigos foram anistiados em 1875, pelo Duque de Caxias, Maçom e Presidente do Gabinete, que em pouco tempo galgaria ao Grão-Mestrado da Ordem, a contragosto do Imperador, que transformou a contenda em caso pessoal, nunca perdoando aos Bispos, mesmo depois da anistia.

Luis Alves de Lima e Silva demonstrou com a sua magnaminidade, que na maçonaria há tolerância, solidariedade humana e fraternidade.

III – A MAÇONARIA DO ESPECIAL RITO BRASILEIRO

No período compreendido entre 1878 à 1882, o negociante José Firmo Xavier criou uma sociedade secreta à feição da Maçonaria, colocando-a sob os auspícios da S. M. Imperador D. Pedro II, da Família Imperial e do Papa, era a Maçonaria do Especial Rito Brasileiro para as Casas do Círculo do Grande Oriente de Pernambuco.

Tinha por finalidade defender a religião católica, sustentar a Monarquia Brasileira, praticar caridade, desenvolver as ciências, as letras, as artes, a indústria, o comércio, a agricultura e contribuir para a extinção do elemento servil.

Era destinada somente à todos os brasileiros natos, sem distinção de classe, como especifica o art. 3º da sua Constituição.

A base do Rito era a Maçonaria Simbólica com seus três Graus Simbólicos. Sobre essa base erguia-se a hierarquia dos 20 Altos Graus. As Lojas Simbólicas de hoje eram chamadas de Casas e tomavam o nome que quisessem, mas não podiam substituí-lo sob pretexto algum. Quando uma Casa abatia colunas, era proibido se instalar outra com o mesmo nome.

A Constituição deste Rito, em diversos artigos, referia-se à emancipação dos escravos, dispensando carinho e atenção à alforria, inclusive com a criação de um cofre especial para se deitar o óbulo que quiserem a bem da emancipação dos escravos, que era comemorada com festa, na data magna do aniversário do Rito, no dia 29 de Junho, com a entrega solene das Cartas dos Libertos pelo respectivo cofre de emancipação.

A Regência das Casas durava o período de um ano, e era composta de um Venerável, quatro Vigilantes (dois titulares e dois suplentes), um orador, um Secretário, um Tesoureiro, um Fiel, dois Guardas da Cruz, quatro Defensores e quatro Acusadores, quatro Sindicantes, quatro Mestres, quatro Andadores e dois Guardas do Templo. O Irmão eleito Venerável só poderia ser reeleito depois de findar quatro anos da sua administração.

Além do Oriente, os Irmãos tomavam assento na Coluna do Norte do Vale do Soberbo Amazonas, de responsabilidade do Primeiro Vigilante, e na Coluna do Sul do Vale do Prata, sob os cuidados  do Segundo  Vigilante; pediam Vênia por duas palmas ao Venerável.

O Ir:. Orador tinha assento em lugar especial ao lado esquerdo do venerável; além de exercer as atuais atribuições do cargo, ele também era o relator de todos os processos, que eram entregues ao Acusador.

Os Irmãos Acusadores (Coluna do Norte) eram responsáveis pela acusação das faltas e erros dos irmãos, sendo a escolha de um deles por votação da Regência. Os Irmãos Defensores (Coluna do Sul), eram ocupados na defesa dos Irmãos processados, sendo um deles escolhido pelo Irmão acusado.

Os Irmãos Sindicantes tomavam assento na Coluna do Prata (2) e na Coluna do Amazonas (2) e eram  responsáveis “em bem examinar e indagar das faltas chegadas quer pela voz pública, ou pelas pranchas que receberem”.

Os Irmãos Mestres tomavam assento em ambas as Colunas e dentre outras competências, eram responsáveis “por ensinar aos Irmãos da sua Coluna os toques e sinais e escrituração para bem poderem gozar e vencerem nos mistérios da Santa Irmandade”, bem como executar todo trabalho cerimonial  do Rito e de fazerem a polícia interna do Tabernáculo.

Os Guardas da Cruz, também tomavam assento em ambas as Colunas e eram chamados pelo Venerável para junto do docel quando tiver de descerrar o Santo Padroeiro e aí ficarão de pé até o fim do ato.

Os Guardas do Templo exerciam as mesmas funções dos nossos atuais Cobridores, sendo que, o que se encontrava no interior do Templo transmitia ao 2º Vigilante tudo que de fora do Tabernáculo lhe era comunicado.

Foi criado um Supremo Conselho do Grande Oriente em Pernambuco, ao qual ficará sujeita a Maçonaria do Especial Rito Brasileiro, que tinha o Imperador D. Pedro II, a  S. S. Pontifica e os Príncipes da Família Imperial como Grandes Chefes Protetores, com o Grau 23, e como Grande Chefe Propagador e vitalício, com o Grau 22, o autor da idéia, José Firmo Xavier. Em caso de sua morte o Grande Chefe Propagador seria substituído, por eleição do Supremo Conselho, tomando o que o substituir o título de Chefe Conservador.

O autor do Rito encaminhou ao Imperador D. Pedro II uma cópia da Constituição do Rito acompanhada de uma lista com os 838 nomes de irmãos, denominada “Caderneta Nominal dos Sócios da Nobre e Augusta Casa Maçônica do Especial Rito Brasileiro Coração Livre e Popular propagada e instalada em Pernambuco”. Foi observado que após o nome de muitos, havia a palavra – Republicano.

O Irmão Mário Behring informa que a tal lista foi enviada a D. Pedro II acompanhada da Constituição, para que ele naturalmente soubesse quais os seus defensores em Pernambuco, o que não se acredita, pois nessa extensa relação havia vários republicanos que, certamente, não seriam as pessoas indicadas para a defesa do Imperador.

Para Álvaro Palmeira, Grão-Mestre Honorário e Grande Instrutor do Rito Brasileiro, em decorrência dos fatos anteriormente relatados, era bem provável que Firmo Xavier queria fechar as feridas deixadas, sobretudo em Pernambuco, pela  “Questão Religiosa”, e sonhando ardentemente ver essa amizade restabelecida, colocou  o  seu Rito sob  a proteção de D. Pedro II,  da Família Imperial e do Papa.

Ainda, Álvaro Palmeira julga que o Rito não prosperou, por conter preceito de irregularidade, como a só admissão de brasileiro nato.

Assim, apesar de tudo, a Maçonaria do Especial Rito Brasileiro não alcançou seus desígnios e abateu colunas talvez antes do tempo.

A CRIAÇÃO DO RITO BRASILEIRO

IV – O IDEALIZADOR DO RITO BRASILEIRO – LAURO SODRÉ

O General Lauro Sodré e Silva assumiu o Grão Mestrado da Maçonaria em 21 de junho de 1904, e durante quase treze anos empunhou o Supremo Malhete, após diversas reeleições. Ao assumir os desígnios da Maçonaria Brasileira, Lauro Sodré já era uma figura respeitada e admirada no cenário político nacional. Destacou-se na campanha abolicionista e na propaganda republicana; foi discípulo dileto de Benjamim Constant e seu secretário quando este foi Ministro da Guerra; presidiu a Província do Pará, pela primeira vez, aos 33 anos incompletos, em 1891; opôs-se incisivamente ao golpe militar promovido por Deodoro, em 1891, contribuindo para a renúncia do ditador[1]; foi Senador pelo Pará (1897-1902) e pelo Distrito Federal (1903).

O Irmão Lauro Sodré cultuava a liberdade e o livre arbítrio, e por isso participou do levante da Escola Militar da Praia Vermelha contra a obrigatoriedade da vacinação contra a febre amarela, não por oporem-se contra a vacinação, mas contra a sua obrigatoriedade.

Esse foi o homem que conquistou o Supremo Malhete, em 1904, e deteve o expressivo apoio e veneração de seus Irmãos, produzindo inúmeras realizações, entre as quais destacamos: a criação do Grande Oriente do Amazonas; a elaboração da nova Lei Magna do Grande Oriente, conhecida como Constituição Lauro Sodré (1907); a criação do Grande Capítulo do Rito de York (1913); promoveu o estreitamento de relações com a Grande Loja Unida da Inglaterra, celebrou Tratados de Paz e Amizade com o Grande Oriente da Argentina (1904) e com o Grande Oriente Lusitano (1907); criou o ensino primário obrigatório para filhos de Maçons (1915); registro do patrimônio maçônico (1916) e a organização do Gabinete das Insígnias.

Contudo, podemos afirmar que a mais importante das suas contribuições para a maçonaria Brasileira foi, indubitavelmente, a criação do Rito Brasileiro.

V – A CRIAÇÃO DO RITO BRASILEIRO DE LAURO SODRÉ

Não se sabe quais as razões que levaram Lauro Sodré a fundar o Rito Brasileiro. Teria sido uma resposta ao apelo do “Cavaleiro Rosa-Cruz” (1894), ou influência da Maçonaria do Especial Rito Brasileiro criada por José Firmo Xavier (1978 – 1882)?

Contudo, o que existe de mais concreto é que várias reuniões de Maçons ocorreram na casa do General José Joaquim do Rego Barros, no Quartel da Antiga Artilharia de Costa, em 1914, onde o ideal trazido pelo General Lauro Sodré, o criador da idéia, tomou corpo. Participaram dessas reuniões e de outras ocorridas no Grande Oriente do Brasil, quando foi tratada a fundação do Rito, os Irmãos: Lauro Muller, Dr. Nilo Peçanha, Dr. José Mariano Carneiro da Cunha, Amaro Albuquerque, A. O. de Lima Rodrigues, Coelho Lisboa, Eugênio Lopes Pinto, Evaristo de Morais, Firmo Braga, Floresta de Miranda, Horta Barbosa, Joaquim Xavier Guimarães Natal, Leôncio Correia, Mário Behring, Monteiro de Souza, Otacílio Câmara, Otávio Kelly, Ticiano Corrégio Daemon, Tomaz Cavalcanti, Veríssimo José da Costa e Virgílio Antonino.

As personalidades que se reuniam na casa do Comandante do antigo Quartel de Artilharia de Costa, no Rio de Janeiro, eram destacadas figuras da intelectualidade, da sociedade e da política.

Finalmente, o Conselho Geral da Ordem, presidido pelo Poderoso Irmão Lauro Sodré, se reuniu em Sessão Ordinária no dia 21 de dezembro de 1914 e deliberou pelo reconhecimento e adoção do Rito Brasileiro, gozando das mesmas regalias concedidas aos demais Ritos reconhecidos pelo  Grande Oriente do Brasil, conforme proposta apresentada pelo Irmão Grande Orador Interino Eugenio Pinto, aprovada pelos presentes, havendo apenas um voto contrário à medida, do Poderoso Irmão Carlos Duarte, que achava desnecessário mais um Rito. Participaram da reunião, além dos já citados: Dr. Ticiano Daemon, Dr. Horta Barbosa, Dr. Monteiro de Souza, Dr. Octacílio Câmara, Dr. Floresta de Miranda, Dr. Loureiro de Andrade e Dr. Firmo Braga.

No dia 23 de dezembro de 1914, era baixado o Decreto nº 500, com o seguinte texto:

“Lauro Sodré, Grão Mestre da Ordem Maçônica no Brasil;
                       Faz saber a todos os maçons e oficinas da Federação, para que cumpram e façam cumprir, que em Sessão efetuada no dia 21 de dezembro deste ano, o Ilustríssimo Cons:. Ger:. da Ord:. aprovou o reconhecimento e incorporação do Rito Brasileiro entre os que compõem o Grande Oriente do Brasil, com os mesmos ônus e direitos, regido liturgicamente pela sua constituição particular, respeitado o dispositivo do art. 34º do Reg:. Ger:. , ficando autorizada a funcionar a sua Grande Loja, intermediária das relações entre os Irmãos do Rito e entre estes e os Poderes Maçônicos de que trata o art. 4º do Reg:. Ger:., o que é promulgado pelo presente decreto”.

Assinavam o decreto, Lauro Sodré, Grão-Mestre da Ordem; Ticiano Corregio Daemon, Grande Secretário-Geral da Ordem; e A. O. Lima Rodrigues, Grande Chanceler.

Contudo, Lauro Sodré, em decorrência de ter sido eleito para a Presidência da Província do Pará, e por ter de fixar sua residência fora da sede do Grande Oriente solicitou sua renúncia ao cargo de Grão-Mestre. Consternado, o Conselho Geral da Ordem, em março de 1916, a aceitou, assumindo interinamente o Contra-Almirante Veríssimo José da Costa.

Felizmente, o Soberano Grão-Mestre em exercício Veríssimo José da Costa se interessava bastante pelo Rito Brasileiro e graças à ele, em 16 outubro de 1916, o Decreto nº 500, de 23 de dezembro de 1914, foi remetido para ser homologado pela Soberana Assembléia Geral, que reconheceu, consagrou e autorizou o Rito Brasileiro, por estar em harmonia com os princípios maçônicos, cumprindo-se, assim o preceito do EX-VI do nº 13 do art. 35 da Constituição de 24 de fevereiro de 1907.

A homologação deu origem ao Decreto nº 536, de 17 de outubro de 1916, em cujo texto o Grão Mestre da Ordem em exercício, em conformidade com a resolução da Soberana Assembléia-Geral, reconhecia, consagrava e autorizava o Rito Brasileiro criado e incorporado ao Grande Oriente do Brasil pelo Decreto nº 500, de 23 de dezembro de 1914.

Prosseguindo, em 17 de Junho de 1917, o Soberano Grão-Mestre Veríssimo da Costa, baixou o Decreto nº 554, que adotava e incorporava ao patrimônio da legislação do Grande Oriente do Brasil a Constituição do Rito Brasileiro, contendo a sua Declaração de Princípios; Estatutos; Regulamentos; Rituais e Institutos.

Em 1919, Veríssimo da Costa num gesto de grande magnaminidade, antes de entregar a Chefia da Ordem á Nilo Peçanha, concedeu ao Irmão Lauro Sodré, o título de Grande Benemérito da Ordem pelos serviços especiais, extraordinários e relevantes prestados aos ideais Maçônicos, bem como o de Grão-Mestre Honorário da Ordem, reconhecendo o profícuo  trabalho deste insigne brasileiro em prol da Maçonaria Brasileira.

O Rito Brasileiro, desde o seu surgimento, em 1914, foi se oficializando sem pressa, como vimos. Depois, ficou adormecido por várias razões, entre as quais destacamos a eclosão da guerra de 1914-1918, bem como a intolerância de Maçons que viam o Rito com desconfiança e má fé e porque também não tinha constituída a Oficina-Chefe, isto é, o Supremo Conclave, o que só viria a ocorrer em 1941, sob o nome de Conclave dos Servidores da Ordem e da Pátria.

Outro agravante era não existirem Rituais, nem para os três Graus Simbólicos, e só em 1940, Octaviano Menezes Bastos redigiu e imprimiu o Grau Um, e Álvaro Palmeira redigiu e imprimiu o Grau Dois, ambos adotados pelo Conclave. Palmeira ainda redigiu o Grau Três, mas não o imprimiu.

Quando o Rito Brasileiro surgiu, veio com 33 Graus, sendo 3 Graus Simbólicos obrigatórios, e as 5 Ordens de Altos Graus, que de acordo com a Constituição de 1917 eram: Cavaleiro do Rito; Paladino de Deus; Apóstolo do Templo; Defensor do bem Público e Servidor da Ordem e da Pátria.

Em 1919, foi impressa a primeira Constituição do Rito, sendo seu relator o Ir:. Octaviano Bastos, nela contendo, além dos 3 Graus Simbólicos, haviam 4 Títulos de Honra, correspondentes aos Graus 18, 21, 30, 33: Cavaleiro do Rito, Paladino do Dever, Apóstolo do Bem Público e Servidor da Ordem e da Pátria.

Desde o início a nomenclatura dos 30 Altos Graus se afastou inteiramente da nomenclatura escocesa.

Desde 1914, o Rito se declarou teísta, como o Rito de York, admitindo a existência de Deus, o Supremo Arquiteto, e sua ação providencial no Universo.

A primeira Loja do Rito foi fundada na Província de Pernambuco, depois, em 1928, surgiu a Loja Ypiranga, em São Paulo. Acanhadamente surgia uma Loja do Rito Brasileiro aqui e ali, que sem mais nem menos, abatia colunas ou simplesmente mudava de Rito, porque não encontrava ambiente favorável ou por falta absoluta de Rituais e de Oficina Chefe, e essa situação perdurou até a década de sessenta, quando assumiu a Direção do Grande Oriente do Brasil, o Irmão Professor Álvaro Palmeira, responsável pela consolidação do Rito Brasileiro

A Consolidação do Rito Brasileiro

   I – O DESPERTAR EM 1940

Na Ordem do Dia da Sessão Ordinária do Conselho Geral da Ordem, ocorrida a 22 de julho de 1940, Octaviano Bastos faz a leitura do projeto da nova Constituição do Rito, que é aprovado com algumas emendas. Na mesma Sessão ordinária também é aprovado o projeto de lei que autorizava ao Grão-Mestre:

a) Ativar o funcionamento do Rito Brasileiro de conformidade com a sua Constituição e a iniciar a formação do seu Conclave, nomeando seus primeiros fundadores;

b) Estimular a instalação da primeira Oficina do Rito dispensando todas as taxas a que estiver sujeita e os emolumentos dos três primeiros profanos que nela se iniciarem;

c) Conceder favores idênticos às Oficinas que passarem a funcionar seguindo o R:.B:., dentro do prazo de 180 dias, renunciando ao regimem Capitular;

d) Providenciar junto ao Conclave, para que aos Maçons Capitulares dessas Oficinas sejam concedidos Títulos do R:.B:., correspondentes aos Altos Graus possuídos, com o fim de constituírem os respectivos Corpos.

Assim, o Grão Mestrado através do Ato nº 1617, de 03 de agosto de 1940, em atenção à resolução tomada em Sessão Ordinária no dia 22 de julho pelo Cons:.Ger:. da Ord:., nomeia os IIr:. Antônio de Oliveira Brito, Octaviano Bastos, Álvaro Palmeira, Alexandre Brasil de Araújo, Romeu Gibson, Pedro Ramos e Oscar Argollo para procederem à formação do “Conclave do Rito”.

Em janeiro de 1941, o Grão-Mestre Joaquim Rodrigues Neves, em decorrência da Comissão ter  cumprido a sua missão, nomeia a Comissão Instaladora do Conclave dos Servidores da Pátria do Rito Brasileiro, sendo o seu presidente o Ir:. Octaviano Menezes Bastos, e como demais membros os IIr:. Arthur Paulino de Souza, José Marcello Moreira, Capitulino dos Santos Júnior e Aristides Lopes Vieira.

Até 1940, não existiam Rituais, nem para os três Graus Simbólicos, quando Octaviano Bastos redigiu e imprimiu o do Grau 1, e Álvaro Palmeira redigiu e imprimiu o do Grau 2,ambos adotados pelo Conclave. Palmeira ainda redigiu o do Grau 3, mas não o imprimiu.

E tudo ali, em 1940 era patriótico: a aclamação (Ciência, Razão, Brasil), a palavra de passe (Brasil), a decoração verde-amarelo dos templos (paredes, altares, dossel|), a exigência de “ser preferencialmente brasileiro”.

No dia 30 de abril de 1941, dá-se a regularização do Rito Brasileiro da Loja Brasil. Em 10 de julho de 1941 o Grão-Mestre Joaquim Rodrigues Neves, baixou o decreto nº 1259, aumentando para 10 dias o número de profanos que seriam dispensados dos emolumentos cabíveis ao se iniciarem.

Apesar de todas essas alterações e emendas na Constituição, o Rito Brasileiro não tomou força e vigor necessário para ocupar o lugar que lhe fora destinado.

Foram reconhecidas as Lojas fundadas que preenchiam as exigências da Constituição da Ordem e do Rito: Loja Ypiranga (SP, 1928); Loja Brasil (RS, 1941); Loja Gonçalves ledo (MG, 1940; Loja Cruzeiro do Sul V (PI, 1949); Loja Renovação (RJ, 1956); Loja Clementino Câmara (RN, 1958), que chegou a publicar por conta própria, em 1966, o Ritual do 3º Grau, adaptando-o do escocês, para suprir a omissão que havia; Loja Fraternidade e Progresso III (RJ, 1959; Loja Alvorada (SP, 1959), e Loja Quatorze de Julho V (1961).

Entretanto essas Lojas tiveram vida curta ou mudaram de Rito, pelas razões já citadas e pela ausência de um grupo efetivamente dedicado.

Esse quadro só começaria a ser mudado com a eleição do Irmão Álvaro Palmeira, que como candidato único, embora relutante em aceitar a sua indicação do seu nome para o alto cargo, foi eleito tranqüilamente em 1963.

II – O IRMÃO ÁLVARO PALMEIRA:

O Ir:. Álvaro Palmeira, em 1920, foi iniciado, com a idade mínima, na Loja Fraternidade Española, do Rito Moderno, no Grande Oriente do Brasil. Ocupou todos os cargos dentro da Maçonaria. Em 1944, em decorrência de discordar da atuação do Grão-Mestrado da época, ele abandona “provisoriamente” o Grande Oriente do Brasil e funda o Movimento Maçônico Restaurador, nesse ano, e a Grande Loja do Brasil, em 1945.

Palmeira contribuiu decisoriamente para a fundação do Grande Oriente Unido, em 1948, incorporando as Lojas Simbólicas da Grande Loja Brasil ao Grande Oriente Unido, em 1950, convertendo-se aquele Corpo numa Grande Loja de Veneráveis. Em 1956, foi eleito Grão-Mestre do Grande Oriente Unido. Em dezembro de 1956, cessando os motivos que o afastaram do Grande Oriente do Brasil, ele retorna, incorporando à tradicional Potência o Grande Oriente Unido, com 51 Lojas, inclusive entregando ao GOB todo o patrimônio móvel e imóvel, documentos e o numerário existente no Grande Cofre.

Após esse gesto, considerou-se “simples Mestre Maçom do Grande Oriente do Brasil”.

Quando assumiu o Grão Mestrado, em 1963, entre outras realizações, restaurou as finanças, intensificou as relações Maçônicas com quase todo mundo, reorganizou e reabriu a Biblioteca Maçônica, graças ao trabalho do Ir:. Nicola Aslan, Grande Secretário Geral da Cultura e Orientação, aumentou o patrimônio do GOB, adquirindo e construindo prédios, inclusive evitando a demolição do Palácio Maçônico do Lavradio, instalou o Grande Oriente da Bahia (1964), o Grande Oriente do Maranhão (1966), o Conselho de Veneráveis d Distrito Federal, estreitou relações maçônicas internas e celebrou Tratados com o Supremo Conselho do Rito Escocês Antigo e Aceito, com o Grande Capítulo dos Cavaleiros Noaquitas e com o Supremo Conclave do Rito Brasileiro (1968). Ainda, criou a Mútua Maçônica e o Quaro de Hora de Estudos, nas Sessões das Lojas.

Foi benemérito de diversas Lojas e Institutos, possuía um impressionante medalheiro. Esse é apenas parte do seu Currículo Maçônico, e muito teríamos que escrever sobre o seu currículo profano, que é realmente expressivo.

Essa é a nobre figura que dedicou seus esforços para que o Rito Brasileiro se consolidasse e cumprisse seus desígnios. Ao deixar o Grão Mestrado em 1968, estava convencido de que a Maçonaria não podia continuar alienada da vida contemporânea, presa a idéias de 1717, como o que era bom há dois séculos e meio, fosse ainda bom para s nossos dias. Para ele o Rito Brasileiro pretende abrir ou iniciar um novo período na História da Maçonaria Universal.

 III – O NOVO DESPERTAR- Álvaro Palmeira e a Consolidação do R...B...

Quando Álvaro Palmeira assumiu o seu mandato, em 1963, o Rito Brasileiro apresentava o seguinte cenário:

  • a) Era um Rito reconhecido e incorporado ao Grande Oriente do Brasil, reconhecido, consagrado e autorizado pela Soberana Assembléia e tinha a sua Constituição adotada e incorporada ao patrimônio legislativo do Grande Oriente;b) Ocorreram duas tentativas para a sua implantação definitiva, uma em 1921, em São Paulo e outra em 1940, na antiga Guanabara, com a publicação de alguns Rituais e fundação de algumas Lojas;

c) As lojas surgidas em diversos Orientes, tanto naquele período inicial e outras mais recentemente, fracassaram pela falta de Rituais completos e ausência de governo no filosofismo do Rito;

d) Dois Atos haviam sido baixados pelo Grão-Mestre, em 1940, o de nº 1617, relacionado com a constituição do núcleo do Corpo Máximo do R:.B:. (Supremo Conclave), e o outro, o de nº 1636, que designava uma comissão para sua regularização;

e) Vários IIr:. de relevo, depois de 1940, haviam sido agraciados com o mais alto Titulo do Rito, mas o Supremo Conclave, logo adiante, adormeceu;

  • f) Havia, nessa época, um interesse manifesto pelo Grão-Mestrado, em promover uma reformulação na Maçonaria no sentido de ela corresponder às exigências do momento vigente, e o Rito Brasileiro, por seu conteúdo, era o que possibilitaria a interação da Maçonaria Contemplativa à Maçonaria Militante, respeitando o alto conteúdo doutrinário da Instituição. A igreja católica era o exemplo marcante de que era possível a uma instituição que cultiva a tradição, ser evolutiva no atendimento das necessidades conjunturais da sociedade;

g) Em março de 1968, infelizmente, não havia nenhuma Loja do Rito Brasileiro do Grande Oriente do Brasil em funcionamento, encontrando-se o Rito adormecido.

  • Assim, o Grão-Mestre Álvaro Palmeira, considerando o cenário existente, e o desejo insistente de numerosos IIr:. em vários Orientes, de trabalharem no Sistema do Rito Brasileiro, que vinham de encontro aos seus próprios anseios, e contando com o apoio  e a aprovação unânime dos IIr:. do Conselho Federal da Ordem, desencadeia o processo de implantação regular do Rito Brasileiro, ao baixar o decreto nº 2080, de 19 de março de 1968, que teve o intuito de renovar os Superiores  Objetivos do  Ato nº 1617, de 03 de agosto de 1940, como marco inicial da efetiva implantação  do Rito Brasileiro, e determina a constituição de uma Comissão Especial, composta por 15 Poderosos Irmãos, com a finalidade de reverem, com plenos poderes, a Constituição do Rito Brasileiro, publicada pelo Grande Oriente do Brasil, em 1940, de modo a colocar o Rito rigorosamente em acordo com as exigências Maçônicas da Regularidade Internacional, fazê-lo Universal, separar o  Simbolismo, do Filosofismo, e tornando-o um  verdadeiro veículo de renovação da Ordem, conciliando a  Tradição com a Evolução.

    Participaram desta Comissão os EEm:.IIr:. Benjamim Sodré, Grão-Mestre Geral Honorário e Erasmo Martins Pedro, Grão-Mestre Adjunto, e mais os PPod:.IIr:. Adhemar Flores, Adalberto Alves Sarda, Álvaro de Mello Alves Filho, Ardvaldo Ramos, Cândido Ferreira de Almeida, Edgard Antunes de Alencar, Eugênio Macedo Matoso, Humberto Chaves, Jorge Bittencourt, Jurandyr Pires Ferreira, Norberto Santos, Oscar Argollo e Tito Ascoli de Oliva Maya.

    O Professor Álvaro Palmeira se designou Assessor desta comissão, orientando seus trabalhos, inclusive na redação da nova Constituição do Rito, aprovada em 25 de Abril de 1968. Nela, os quatro Títulos de Honra, constantes na Constituição de 1919, transladaram-se para as quatro Oficinas Litúrgicas: Sublimes Capítulos – Mestres e Cavaleiros, Graus 4 a 18; Grandes Conselhos – Missionários, Graus 19 a 30; Altos Colégios – Guardiões do Bem Público, e do Civismo, Graus 31 e 32; e Supremo Conclave – Servidor da Ordem e da Pátria, Grau 33.

    A Comissão constituída se esforçou para por o Rito em ordem, porque ele já era Legal, Regular e Legítimo.

    A Magna Reitoria inicial tinha como Grande Primaz de Honra o Ir:. Almirante Benjamim Sodré.  O primeiro Grande Primaz de Ofício foi o Ir:. Humberto Chaves, seguido pelos IIr:. Adhemar Flores, Cândido Ferreira de Almeida. O atual Grande Primaz Nei Inocêncio dos Santos, assumiu o cargo, ao fim da década De oitenta, com apoio de Álvaro Palmeira.

    O cargo de Grande Instrutor do Rito foi desempenhado, em 1968, pelo Ir:. Professor Álvaro Palmeira, responsável pela regularidade Maçônica do Rito e pela exação dos Rituais.

    Em 10 de junho de 1968, o Grão-Mestre do Grande Oriente do Brasil Álvaro Palmeira celebrou Tratado de Amizade e Aliança com o Supremo Conclave do Rito Brasileiro, que foi ratificado pela Assembléia Federal Legislativa, no dia 27 jul de 1968, definido, entre outras importantes deliberações, que as Lojas Simbólicas do Rito pertencem à obediência do Grande Oriente do Brasil e os Altos Graus são de responsabilidade do Supremo Conclave do Brasil.

    Palmeira, como Grão-Mestre do GOB, moldou o Rito, na área doutrinária e intelectual, na esfera do conhecimento. Em 1968, ele deu estrutura ao Rito e escreveu todos os nossos rituais Simbólicos e Filosóficos, exceto o do Grau 33, CUJO Rito próprio foi aprovado pelo Supremo Conclave, em 1999, escrito de autoria do Ir:. Carlos Simões.

    CONCLUSÃO

    A criação do Rito Brasileiro engloba uma história de ideais, enfatizando que “a  Maçonaria é universal, mas o Maçom tem uma Pátria”. Assim, o Rito Brasileiro vem atender as peculiaridades sócio-geográficas que influenciam o Maçom Brasileiro.

    Álvaro Palmeira propôs a Maçonaria Social, que remete a maçonaria Universal, a Quarta fase, ao Quarto Período, ao Quaternário. È a Maçonaria dinâmica, participativa, ecológica, preocupada com a sorte da Humanidade. É o Renascimento maçônico, no que a Ordem possui de mais belo e profundo: o Conhecimento e a Fraternidade – esta é a missão destinada ao Rito brasileiro, ideal de Álvaro Palmeira.


    [1] Quando Deodoro enviou o General Mallet para depor Lauro Sodré, este mobilizou a juventude militar e a elite civil do país, e desafiou Deodoro: “Daqui só sairei envolto nos farrapos da Bandeira Republicana”.

Leonardo Loubak
Leonardo Loubak
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